Pacientes portadores de diabetes tipo 2 também têm uma propensão maior a adquirir certos tipos de câncer
- por Oncocentro Curitiba
Dia Mundial do Diabetes - Sabemos que a diabetes é uma doença que pode gerar várias complicações em nosso organismo, como obesidade, problemas de cansaço e na visão.
Porém, uma nova série de estudos indica que pacientes portadores de diabetes tipo 2 também têm uma propensão maior a adquirir certos tipos de câncer.
Quais são os tipos de câncer que pacientes com o tipo 2 do diabetes estão mais propensos a desenvolver?
Os estudos apontam que há um real aumento na incidência de câncer de pâncreas, hepatobiliar e endométrio na população com diabetes tipo 2. Há um leve aumento na incidência de câncer de cólon e reto, mama e bexiga. Existem, entretanto, fortes fatores que podem confundir esses estudos, pois muitos dos fatores de risco para ambas as doenças são compartilhados, como obesidade, redução da atividade física, dieta rica em gordura e pobre em fibras.
O motivo para pessoas com diabetes desenvolverem com maior facilidade alguns tipos de câncer ainda não está claro. Há dúvidas, inclusive, se isto decorre como efeito direto da hiperglicemia (alta taxa de glicose na corrente sanguínea) ou devido à resistência à insulina e consequente hiperinsulinemia (elevação da taxa de insulina no sangue). Uma hipótese é que muitas células malignas expressam receptores de IGF-1 (insulin-like growth factor 1) e o IGF-1, assim como a insulina, estão aumentados em pacientes diabéticos do tipo 2, sobretudo em obesos.
Existe alguma relação entre o diabetes tipo 1 e o câncer?
O diabetes tipo 1 é mais raro e há poucos estudos que avaliaram esta associação. O diabetes tipo 1 está relacionado à diminuição da produção de insulina pelas células beta pancreáticas e não está associado ao sobrepeso ou obesidade. Atualmente, baseado em estudos, não podemos dizer que o diabetes do tipo 1 leva a um aumento do risco de câncer.
Como é feito o tratamento de um paciente com diabetes que também é diagnosticado com câncer?
Há uma série de peculiaridades. Tanto na escolha das drogas (quimioterapia) quanto no manejo dos efeitos colaterais. A principal orientação quanto à alimentação é manter a regularidade, fracionar a dieta ao longo do dia e, junto à nutricionista, elaborar um cardápio baseado nas suas necessidades. Tanto para o diabetes quanto para o tratamento oncológico a atividade física é extremamente importante. Muitas vezes o endocrinologista precisa alterar as doses ou medicações para ajustes glicêmicos e esta interação entre as equipes é fundamental. A metformina, por exemplo, é uma droga antiga e muito útil no tratamento do diabetes que pode ser útil também no tratamento do câncer.
O controle glicêmico pode ser comprometido durante o tratamento oncológico? Como?
Pode, em vários aspectos. Inicialmente, pelo ganho ou pela perda de peso que pode ocorrer ao longo da doença e do seu tratamento. Além disso, uma série de medicações, principalmente os glicocorticoides (utilizados junto à quimioterapia para prevenir náuseas e alergia) costumam elevar os níveis de glicose. O stress, infecções e cirurgias também podem descompensar o controle glicêmico. Às vezes, algo simples como suspender o uso de metformina previamente a um exame de tomografia com contraste também pode comprometer o controle.
O tratamento na área de oncologia vem apresentando novidades recentes? Quais?
Sem dúvida. Nos últimos anos, assistimos a uma verdadeira mudança de paradigma no tratamento do câncer. Devido à heterogeneidade tumoral e à observação de respostas diferentes ao mesmo tratamento, muito se avançou no sentido de procurar alvos moleculares para cada tipo de tumor. Assim, caminha-se para individualização do tratamento. O aparecimento de drogas-alvo, inclusive via oral, melhorou os resultados, facilitou a aderência e levou a aumentos da sobrevida com qualidade de vida. Muitas destas drogas-alvo já estão na prática clínica e muitas estão em fases avançadas de estudo. O futuro é bastante promissor.