A luta de Verônica Hipólito pela recuperação após a retirada do 203º tumor: "Escolhi viver"
- por Oncocentro Curitiba
Velocista campeã mundial e medalhista paralímpica busca retomar rotina de atleta após nova cirurgia que a deixou praticamente sem andar: "Quero ser alguém em que todo mundo se inspire"
Uma simples tosse, dor de cabeça ou resfriado se torna motivo de reclamação para muitas pessoas. Talvez esteja no DNA do ser humano reclamar, muitas vezes sem que haja um motivo para isso. Não para Verônica Hipólito. A velocista campeã mundial e medalhista paralímpica tem lutado contra mais um dos inúmeros desafios que a vida lhe impôs, e sem reclamar absolutamente de nada. Nesta sexta-feira, é celebrado no Brasil o Dia da Luta Nacional das Pessoas com Deficiência, e Verônica é um exemplo vivo de que a limitação faz parte apenas do pensamento de quem não enxerga a vida com a amplitude que ela merece.
Verônica ainda se recupera de uma cirurgia no cérebro para a retirada do terceiro tumor na região. Só isso já seria suficiente para uma grande história de superação, mas a superação da paratleta vai muito além. Ela já retirou outros 200 tumores, perdeu 90% do intestino grosso e sofreu um AVC. Tudo isso antes de ter se tornado uma das melhores atletas do mundo.
– Dessa vez tive alguns problemas, uma broncopneumonia e tive que ficar de repouso total. Para mim, que sou superativa, gosto de falar, tive que ficar parada em casa. Tinham que me levar comida no quarto porque não tinha força para segurar o peso do prato. Está sendo um momento muito difícil, mas a vida é feita de dificuldades. A questão é como estou encarando isso, e tenho feito isso da maneira mais positiva possível. Mas cheguei há três semanas no CT paralímpico sem conseguir andar, e agora consigo trotar um pouco, torta, tropeçando, mas evoluindo muito. – revela a paratleta.
"Problema todo mundo tem. A solução também. Qual caminho você quer escolher?", indaga Verônica Hipólito.
A cirurgia realizada em maio ainda exige muitos cuidados a Verônica Hipólito, que busca retomar a coordenação motora que tinha antes e o condicionamento físico. São 10 quilos acima do peso e um percentual de gordura que incomodam a paratleta.
– Eu poderia ter ficado parada após o AVC, poderia ter desistido após retirar o intestino grosso com 200 tumores e agora por essa nova cirurgia, mas estou vivendo. E quero viver. Quero ser uma gigante do século XXI, quero ser alguém que todo mundo olhe e se inspire. Existem opiniões distintas, mas nunca podemos colocar o ódio na frente. Só vivemos uma vez, vamos perder o tempo odiando, sendo que podemos estar amando? Não podemos perder tempo – disse.
Verônica Hipólito compete na categoria T38 para atletas com deficiência física oriunda de paralisia cerebral, sendo campeã mundial nos 200m rasos e vice-campeã mundial nos 100m no Mundial de Atletismo Paralímpico de Lyon, em 2013; campeã sul-americana nos 100m, 200m e salto em distancia, e campeã dos Jogos Parapanamericanos de Toronto (2015)nos 100m, 200m, 400m; além de prata (100m T38) e um bronze (400m T38) na Paralimpíada do Rio em 2016.
Um dos principais nomes do esporte paralímpico brasileiro ainda não sabe quais os rumos da carreira daqui em diante. A única certeza de Verônica Hipólito é a de conjugar o verbo viver da melhor maneira possível.
Por Emilio Botta — Sorocaba, SP