Cuidados Paliativos
- por Oncocentro Curitiba
por Dr Cassemiro de Jesus Krawczyk Junior - Médico Cuidados Paliativos - CRM 22196.
Nas últimas décadas, é notório, o ser humano tem experimentado aumento progressivo em sua expectativa de vida, graças ao desenvolvimento da medicina e de recursos tecnológicos. Em um ambiente mundial de envelhecimento populacional (2020: 20.5 milhões de idosos; 2025: 32 milhões de idosos, segundo a OMS), onde antigamente víamos como principais causas de morte na humanidade as doenças infectocontagiosas, gradualmente passamos a ver nas doenças crônicas os principais agentes de morte no mundo, mesmo com a atual epidemia do novo coronavirus em evidência hoje Doenças como o câncer, Alzheimer, patologias crônicas pulmonares e cardíacas, cirrose hepática, diabete, HIV/AIDS, Parkinson, artrite reumatoide, entre outras, têm se destacado por seu crescimento em todos os continentes.
Dessa forma, um novo perfil de paciente foi paulatinamente surgindo, ou seja, um doente com diagnóstico de doença crônica convivendo cada vez mais com sua condição e que mantém sua autonomia por cada vez mais tempo. Porém, na medida em que o indivíduo mantém-se convivendo (e vivendo) por um período indeterminado com sua patologia, também sob esse ponto de vista e ao mesmo tempo, passa a conviver (e viver) com a presença cada vez mais próxima da morte. Isso porque essas doenças crônicas, por definição, em determinado momento deixam de responder às possibilidades terapêuticas disponíveis. Com essa visão, desenvolve-se o conceito da morte como um processo natural, processo esse que demanda cuidados adequados para tal.
Reintroduz-se, então, revistos e atualizados para nossos tempos, os conceitos e práticas de Cuidados Paliativos (CP). Derivado do latim “pallium” (coberta, abrigo), o termo designava o cuidado geral ao paciente. Nos tempos das peregrinações europeias a Jerusalém, há cerca de mil anos já havia, juntamente com a atividade dos templários, a atividade de voluntários no cuidado com os ferimentos e doenças produzidos na jornada.
No século XVII, um jovem padre francês chamado São Vicente de Paula fundou a Ordem das Irmãs da Caridade em Paris e abriu várias casas para órfãos, pobres, doentes e moribundos. Em 1900, cindo das Irmãs da Caridade, irlandesas, fundaram o St. Josephs´s Convent, em Londres, e começaram a visitar os doentes em suas casas. Em 1902, elas abriram o St. Joseph´s Hospice com 30 camas para moribundos pobres. Esta forma de hospitalidade tinha como característica o acolhimento, a proteção, o alívio do sofrimento, mais do que a busca pela cura.
Mais recentemente, vemos o surgimento dos cuidados paliativos, com critérios estabelecidos como prática, na década de 1960 no Reino Unido com a médica, enfermeira e assistente de saúde Cicely Saunders, que dedicou sua vida ao trabalho para alívio do sofrimento humano. Em 1967, ela fundou o St. Christopher´s Hospice, o primeiro serviço a oferecer cuidado integral ao paciente, desde o controle de sintomas, alívio da dor e do sofrimento psicológico. Até hoje, o St. Christopher´s é reconhecido como um dos principais serviços no mundo em Cuidados Paliativos e Medicina Paliativa.
Atualmente, os cuidados paliativos englobam qualquer doença que ameace a vida por ser progressiva ou até mesmo incurável. É preciso desmistificar a ideia que cuidados paliativos só devem ser empregados quando não há mais possibilidade de tratamento e o paciente estiver em condição de terminalidade. O principal conceito aqui é promover a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares por meio de prevenção e alívio do sofrimento.
Essa atividade pode ser desenvolvida em casa ou no hospital, bem como também em consultório, casas de repouso e em Hospices. São várias as formas de tornar essa situação o mais confortável possível ao paciente e aos seus entes queridos. A humanização no tratamento está justamente na maneira como a equipe avalia e aplica o plano terapêutico nos campos emocional, físico, social e até mesmo espiritual, afinal, todas essas áreas devem estar em harmonia para que o paciente se sinta bem. Para tanto, deve promove alívio da dor e outros sintomas estressantes, reafirmar a vida, vendo a morte como um processo natural, integrando aspectos psicossociais e espirituais. Assim, dá suporte para que o paciente viva tão ativamente quanto possível, até a sua morte (autonomia, integridade e auto-estima), procurando oferecer suporte à família e entes queridos. Dessa forma, deve ser iniciado o mais precocemente possível, junto a outras medidas de prolongamento de vida (como QT, RT, cirurgias, etc) e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreensão e manejo dos sintomas, não conflitando com o tratamento específico da doença.
Esses cuidados acontecem de maneira integrada, e assim, toda a equipe médica e multiprofissional exerce funções de extrema importância. Médico, enfermeiro, assistente social, farmacêutico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, nutricionista, educador físico e assistente espiritual devem, desse modo, trabalhar juntos na busca de melhorias no dia a dia do paciente e de sua família.
Dessa forma, o cuidado paliativo é um tratamento multiprofissional, uma abordagem de cuidados que visa a melhoria da qualidade de vida de pessoas com doenças graves. Disso resulta que não existem pacientes paliativos, assim como não existem pacientes diálises, ou mesmo pacientes quimioterapias. Cuidado Paliativo, diálise ou quimioterapia são tratamentos, e não diagnósticos. Todos os pacientes com doenças graves podem se beneficiar dessa abordagem de cuidados. Cuidado Paliativo pode ser oferecido inclusive no curso do tratamento curativo de uma doença potencialmente curável, auxiliando o paciente e sua família a terem seus sofrimentos administrados e cuidados por uma equipe multiprofissional, mesmo que o desfecho dessa história seja a cura. Assim sendo, não é uma possível última alternativa para a vida de alguém e não significa morte certa. Cuidado Paliativo não significa retirar tratamentos médicos, nem negar às pessoas o melhor que a medicina e as demais ciências podem lhe oferecer.
Muito se fala em tratamentos humanizados. Mas será que sabemos o verdadeiro significado? Segundo a Organização Mundial de Saúde, Cuidados Paliativos é a assistência integral oferecida para pacientes e familiares quando diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida. O objetivo dos Cuidados Paliativos é oferecer o tratamento eficaz para os sintomas de desconforto que podem acompanhar o paciente, sejam eles causados pela doença ou pelo tratamento (OMS, 2017), obedecendo à sua máxima: “Curar às vezes... Aliviar frequentemente... Confortar sempre!!!”