Vacina contra o HPV: Imunização para prevenir vários tipos de câncer
- por Oncocentro Curitiba
Objetivo é ter gerações livres da doença, como ocorreu com a poliomielite, que foi erradicada.
Ter uma vacina que evite o câncer parece um sonho distante – mas o que algumas pessoas não sabem é que existe uma vacina que pode evitar pelo menos alguns tipos de câncer: de colo de útero, vulva, pênis, ânus e orofaringe (garganta – área em que vem aumentando a incidência de tumores no mundo todo, inclusive no Brasil). Existem mais de 200 tipos de HPV, mas nem todo vírus do HPV é ruim. Há quatro muito perigosos. E temos duas vacinas, a bivalente e a quadrivalente, que cobre quatro subtipos perigosos: 6, 11, 16 e 18. Os subtipos 6 e 11 são responsáveis por lesões pré-malignas e 16 e 18 por lesões malignas. As duas vacinas protegem com bastante eficácia, quase 80 a 90% alguém que nunca teve exposição ao vírus.
O HPV (papiloma vírus humano) é responsável por quase todos os casos de câncer de colo de útero, por cerca de um terço dos cânceres de vulva, metade dos tumores de vagina, dois terços dos cânceres de garganta nos Estados Unidos – no Brasil esse índice é um pouco menor – e pelo menos metade dos cânceres de canal anal e pênis. O câncer de colo de útero é o quarto tumor mais comum da mulher e é responsável por mais de 260 mil mortes por ano no mundo todo. Vidas que podem ser poupadas se a gente conseguir fazer uma vacinação em massa.
Segundo o Ministério da Saúde, o HPV causa cerca de 16 mil casos de câncer de colo de útero por ano no Brasil. Foram registradas 5.700 mortes no país por esse tipo de tumor em 2015, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A boa notícia é que a vacinação contra o HPV está disponível no Sistema Único de Saúde.
“A vacinação é uma forma de prevenção a essas doenças que matam ou trazem sequelas irreversíveis para toda a vida. Podemos ter gerações livres de doença, como aconteceu com a poliomielite, que foi erradicada, não existe mais na sociedade porque vacinamos ao longo de programas de vacinações”, alerta a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues. “Não podemos perder de vista que essa melhoria da qualidade de vida ocorreu por causa da vacinação. O câncer de colo de útero afeta geralmente mulheres entre 40 e 50 anos, provocando dificuldades em sua vida produtiva, interferindo na criação dos filhos e em toda a dinâmica da família. Também para os homens, se nada for feito, os tumores causados pelo HPV podem ser uma das primeiras causas de morte nas próximas décadas”.
Ela lamenta, entretanto, que algumas doenças que estavam erradicadas podem voltar, como aconteceu com o sarampo, porque as pessoas não tomam as vacinas. “Um grande grupo da população pode receber a vacina contra o HPV, mas infelizmente muitos não têm aderido ao calendário de vacinação, perdendo a oportunidade de se proteger e ter uma vida saudável”, comenta Carla. “É fundamental que a população se convença da importância de reverter esse quadro, criarmos um cenário não apenas de evitar mortalidade, mas ter qualidade de vida”.
A vacina contra o HPV está disponível nas unidades públicas para meninas dos 9 aos 14 anos e meninos de 11 a 14 anos, em duas doses, com seis meses de intervalo entre elas. Também podem receber a vacina pessoas com HIV ou imunodepressão, dos 9 aos 26 anos, de ambos os sexos. Para esses, basta comprovar com atestado médico. Temos 36 mil salas de vacinação em todo o país e um calendário com 14 vacinas para crianças, oito para adolescentes e cinco para adultos. É importante acompanhar o calendário e não apenas iniciar, mas completar o esquema vacinal. A imunidade só estará completa quando se toma todas as doses. No caso do HPV, são duas doses para adolescentes e três para imunodeprimidos.
Eficácia comprovada
A importância de imunizar crianças e adolescentes, avisando que a vacinação é pouco efetiva quando a pessoa já teve contato com o vírus – o que acontece principalmente pela relação sexual. Quando a vacinação é feita em alguém que nunca teve essa exposição, ela é incrivelmente eficaz. Entretanto, estima-se que entre 30% e 70% das pessoas sexualmente ativas estejam infectadas por pelo menos um tipo do vírus. Muitas vezes o contato acontece, mas o vírus fica latente, dormindo, não causa infecção nem câncer.
Dois estudos internacionais que comprovaram a importância dessa imunização: um deles, levantamento com mais de 20 mil mulheres, publicado no Journal of the National Cancer Institute, mostrou que o efeito pode ser mais amplo do que se pensava: a vacina protege contra os subtipos 16 e 18, mas a incidência de outros subtipos que aumentam o risco de câncer, como 35, 52, 58, 68 e 73, foi muito menor em pessoas vacinadas do que nas que não foram imunizadas. Outro estudo, com 2.627 homens e mulheres entre 18 e 33 anos, constatou que o grupo imunizado teve um percentual de infecção oral por HPV 88% menor. A redução da infecção pode ser importante para diminuir os cânceres de cabeça e pescoço.
Se a gente vacinar todas as crianças, meninos e meninas no mundo inteiro, talvez o câncer de colo de útero seja algo que não exista mais ou raramente aconteça. Pode ser erradicado do mundo, como a poliomielite. É um sonho que parecia irreal, mas pode ser possível.
Destaque – Dia Mundial do Câncer
Este mês temos uma data bastante importante em conscientização e combate a vários tipos de tumores: o Dia Mundial do Câncer, dia 4 de fevereiro, liderado pela União Internacional para Controle do Câncer (UICC), da qual o Instituto Vencer o Câncer é um dos membros associados. A iniciativa visa unir as pessoas pelo mundo para aumentar a visibilidade do câncer de maneira positiva e inspiradora. A data deste ano marca o início de uma nova campanha, de três anos, com o tema “Eu Sou e Eu Vou”. O objetivo é inspirar ações de pessoas, de comunidades e organizações ligadas à saúde, e do governo para aumentar a conscientização e o acesso à detecção com exames e diagnósticos precoces, possibilitando aumentar as chances de sobrevivência dos pacientes.